viernes, mayo 20

Luis Ospina e suas 1000 palavras



Há pouco que encontre estas palavras do diretor Luis Ospina quando recebeu em 2010 o premio de toda uma vida no cinema e ache que é uma bonita exposição da realidade do cinema na Colômbia e uma confissão de um homem apaixonada pelo seu trabalho, aqui minha tradução do texto com os links a seus filmes o pelo menos a parte deles.


Seu Luis muito obrigada pelo mau exemplo!


"Cansado pela decepção e ("la desazón suprema") o supremo mal-estar Andrés Caicedo me escreveu numa carta, no começo da década dos setenta, uma frase lapidaria "Talvez podemos fazer cinema no ano 2000". no momento ele teve que parar a rodagem de seu filme "Angelita y Miguel Angel" co-dirigida por outro mártir do cinema "caleño", o inesquecível Carlos Mayolo. Os anos tem passado com uma velocidade bagunçada e muitas tem sido as mudanças que teve o cinema desde esse momento. O longe ano 2000 de Caicedo e um assunto pretérito. E neste ano 2010, faz exatamente quarenta anos, começo minha carreira de cineasta quando fiz "Acto de Fe" na escola de cinema da Universidade de California, embora já tinha feito minha "primeira comunhão" no cinema aos 14 anos quando rode com a câmera de meu pai a curta-metragem "Via Cerrada" que felizmente tenho arquivado na cinemateca do esquecimento. Anos antes desapontado com os filmes, Roberto Rossellini declaro que o cinema estaba morto.


Desde que comecei a fazer cinema estou vivendo sua morte, porém me sinto feliz de ter sido um homem de cinema toda minha vida. Para mim, fazer cinema não só é ser diretor de filmes. Além do meu trabalho como diretor, eu trabalhe como produtor, editor, sonidista, cinegrafista, cronista e as veces até ator. Como gestor de cinema foi diretor da Cinemateca do Museu de Arte "La Tertulia" co-dirigiu o "Cine Club de Cali" e foi co-fundador com Andrés Caicedo e alguns bons amigos a revista "Ojo al Cine". E atualmente sou diretor artístico do Festival Internacional de Cinema de Cali, que teve sua segunda edição de outubro 27 - novembro 7 de 2010. Também fui professor embora sempre pensando que o que mais educa é o mau exemplo, por isso meus filmes, desde "Agarrando puebloaté "Un tigre de papel" tem sido estimulo e inspiração para novos cineastas.


O cinema como eu o conheci no início dos anos cinquenta já não existe. O cinema perdeu seus templos e da sua sacralidade. E, claro, perdeu o seu mistério. Já não é mais aquele ritual a mesmo tempo tão intimo e coletivo da sala do teatro do bairro. Hoje igual assistimos um filme em um telão em 3D, ou em um celular, ou em um computador, em YouTube ou em Facebook, em um DVD player ou Blu-ray ou em uma copia pirata de $2R. Ou simplesmente fazemos um download da internet. Os novos cineastas agora encontram a mesa pronta. Tudo é tão fácil. Tudo é digital. Tudo está ao alcance de um dedo. Hoje, mais do que nunca, é verdade que o que falava o Glauber Rocha nos anos sessenta, para fazer filmes só precisam de uma idéia na cabeça e uma câmera na mão.

Quando voltei para a Colômbia, em 1972, os cineastas podiam-se contar com os dedos da mão. E do , porque, na verdade, tinham alguns que faziam filmes com os pés. Mas mesmo assim, todos tínhamos que fazer-lo com as unhas. Tudo era muito difícil e muito caro. Cobravam pelo celulóide como sim fosse virgem. Você tinha que ter  naquela virgem, porque "fé é acreditar no que não foi revelado", como nos foi ensinado no catecismo do padre Astete. O cinema foi um trabalho das trevas, desde a lata hermeticamente fechada até a transferência do celulóide virgem para a câmera e depois ser estuprada pelo feixe de luz que penetra através de um diafragma, que abre ou fecha de acordo com as exigências da cena. Mas paradoxalmente nesses dias havia laboratórios, mas neste momento de prosperidade do cinema, Colômbia não tem um laboratório. Hoje se está fazendo filmes como pão, mas sem forno. Nem lugar para tudo mundo porque a indústria cinematográfica sempre foi evasiva com o cinema colombiano. O mercado nacional fica saturado com pouco mais de uma dúzia de filmes colombianos. Há algum tempo que nem os filmes que claramente procuram um lucro estam conseguindo amortizar o custo. O orçamento das produções sobe na medida que o publico diminui. Mas não fiquem chateados por isso, jovens cineastas. Como bem diz o profeta do mau exemplo Jean-Luc Godard: "O cinema não se faz para ganhar dinheiro, se faz para gastar-lo". E isso é o que me proponho fazer com o dinheiro deste prêmio, gastar-lo fazendo o que gosto de fazer: um cinema outsider, provocador e contracorrente, longe do show e do comércio. O cinema que eu necessito fazer. Antes da sua morte o amado Claude Chabrol reclamou que "Hoje o cinema tem uma reputação muito chocante. Nossos contemporâneos não querem fazer filmes, querem estar nos filmes, que não é exatamente o mesmo. Aqueles que querem estar nos filmes, não sentem a verdadeira necessidade de fazer um filme. Para eles não é necessário como o ar que respiram."


Finalmente, quero dedicar este prêmio a "SINCINCO" (Sindicato de Cineastas Colombianos) entidade fantasma, fundada anos atrás para juntar a todos aqueles amigos que me ajudaram de uma forma ou outra, para fazer filmes e para viver, que para mim é a mesma coisa. Quando me disseram que eu tinha ganhado o prêmio de uma vida dedicada ao cinema eu pensei que era como uma "homenagem póstuma em vida", mas igual que Groucho Marx, eu pensei "¿por que eu teria que me preocupar pela posteridade?  ¿O que fez a posteridade por mim?".  Homenagens melhor em vida que após da morte, e sim tem dinheiro, melhor ainda. Agradeço a todos este prêmio como uma afirmação da aspiração que todos os cineastas devem ser considerados trabalhadores culturais e, portanto, pôr desfrutar de todos os direitos à segurança social e de um programa de pensão digna.
Muito obrigado ".

Tomado da revista "El Malpensante" veja a publicação original aqui

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